"O homem e seu mundo" era o tema central da Exposição Universal celebrada em Montreal entre 27 de abril e 29 de outubro de 1967. Para essa ocasião o arquiteto Moshe Safdie apresentou às autoridades e organizadores da feira sua ideia de pavilhão que reunia vários cânones representativos do movimento moderno sob um arriscado esquema de organização.
Moshe Safdie nasceu em 14 de julho de 1938, em Israel, e jovem mudou-se para o Canadá onde estudou arquitetura na Universidade McGill, sendo o Habitat 67 seu Trabalho Final de Graduação. Apesar de não obter os reconhecimentos máximos por essa abordagem habitacional, seu projeto foi suficientemente forte para que a Expo 67 tenha considerado sua construção em Marc-Drouin Quay, no rio San Lorenzo. Safdie, inexperiente e sem um portfólio extenso na época, reconhece que esta foi uma oportunidade de ouro e literalmente mudou sua vida.
Hábitat 67 compreende 354 blocos de concreto de 11,80 x 5,30 x 3,50 m dispostos em aparente desordem ainda que respondendo a uma estratégia estrutural calculada. Cada módulo de concreto foi construído em uma fábrica levantada no terreno e trabalhou-se todo o processo como se fosse uma cadeia de montagem de automóveis: primeiro se concretava o módulo, em seguida se faziam as conexões elétricas, a cozinha, os banheiros e as janelas, nessa ordem. Depois um guindaste içava-os para a sua localização final.
158 habitações foram construídas para o Habitat 67, apesar que hoje o número tenha se reduzido devido à união de alguns módulos. Originalmente existiam módulos de 1 a 4 habitações e suas áreas variavam de 60 a 460 m² por residência. A modulação calculada do projeto respondia à visão utópica que Safdie tinha para a organização urbana do futuro. Sendo apático e crítico dos subúrbios que proliferavam na América do Norte dos anos 50, queria resolver os problemas habitacionais sem ter que, necessariamente, utilizar os terrenos periféricos. Justamente foi essa visão de cidade a que ajudou que o projeto se concretizasse muito apesar da mínima experiência do arquiteto, ainda que sua proposta original, que era muito ambiciosa, acabou podada: cerca de 22 pisos comerciais não foram considerados, assim como um equipamento social e somente foram construídos 10 pavimentos habitacionais.
No entanto, apesar dos cortes orçamentários, Sadfie conseguiu manter as características originais da visão utópica de habitação de massa sob os parâmetros claros de construção automatizada e espaços dignos. Cada módulo habitacional tem seu próprio terraço construído sobre o telhado do vizinho, funcionando como áreas de lazer (que produz seu efeito tridimensional leve). Sadfie reconheceu que usou blocos de Lego como objetos de exploração para o projeto. O edifício total é orientado leste-oeste permitindo-lhe desfrutar do sol de inverno e o arranjo de módulo permite a circulação de ventos em torno do edifício, algo interessante no verão, onde a mesma disposição de janelas de cada casa permite a circulação cruzada. O modelo de habitação também inclui isolamento térmico nas molduras das janelas, uso de madeira no interior, tratamento de esgotos e das águas pluviais que são recolhidas a partir da cobertura.
Justamente a ambição do projeto fez com que o preço dos apartamentos tenham subido de preço após a exposição. Embora o governo federal tenha financiado a construção de todo o complexo, os proprietários conseguiram em 1985 ter a propriedade das habitações graças ao Canada Mortgage e Housing Corporation, onde até o próprio Safdie tem uma cobertura em um dos edifícios. Atualmente, o Habitat 67 é um símbolo de Montreal e conseguiu levantar diversas reflexões sobre a arquitetura habitacional durante seu meio século de existência, sendo objeto de estudo de muitos arquitetos.
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Arquitetos: Safdie Rabines Architects
- Área: 22 m²
- Ano: 1967
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Fotografias:Juan Muñoz